O trauma da responsabilidade leva a dizer: Não fui eu!

Não fui eu.…A frase soa-lhe familiar? Acredito que sim! Que atire a primeira pedra quem nunca disse isto, pois a primeira reacção que a grande maioria das pessoas tem é esta mesma. Tentar justificar algo que não fez, fugir de uma responsabilização ou escapar de algum tipo de penalização.

Mas pode revelar muitas outras coisas, e numa empresa temos de estar atentos de cada vez que a frase “não fui eu…” é verbalizada.

Quando desenvolvemos projectos com empresas e equipas é interessante ver a quantidade de vezes que esta frase surge. Para a vasta maioria dos colaboradores, ter mais responsabilidades, tarefas novas e desafiantes ou outras competências é um foco de motivação. Sentem-se mais reconhecidos pela chefia e constitui um desafio interessante. No entanto, é também nítido o receio da responsabilização, do ser de facto o responsável último por algo que acontece na empresa. Se for algo bom, um resultado positivo ou um projecto bem sucedido, então a responsabilização é abraçada.

Mas o problema surge quando o resultado obtido é menos positivo, e na maioria das vezes é necessário encontrar um responsável, ou mais, para o que de facto se passou. E é nesta altura que ocorrem alguns problemas!

O papel da estrutura

Um dos primeiros passos é a estruturação das regras da empresa, ou o que normalmente chamamos de procedimentos.

Poderá estar a pensar que a sua empresa tem os seus procedimentos bem definidos, que existem processos e um workflow para algumas das tarefas, perfeitamente definidos e identificados. Mas será que as regras do jogo estão bem definidas? Até que ponto os colaboradores estão ao corrente desses mesmos procedimentos? E será que estiveram envolvidos na elaboração desses mesmos procedimentos?

A comunicação entre todos é fundamental, para que não só as regras estejam bem definidas como ainda bem estabelecidas entre todos. E há que entender que não são imutáveis! Por isso, realize com frequência reuniões de equipa para poderem questionar alguns dos processos e alterá-los, se necessário, por outros melhores, ou que tornem certas áreas mais eficazes.

Se o mercado muda, se os clientes são diferentes, os processos da sua empresa têm de acompanhar esta mudança.

Se ainda não definiu todos os procedimentos, está na altura de o fazer com a ajuda da sua equipa. Se cada um conhecer a sua parte na estrutura e for de algum modo responsável pela melhoria dos seus projectos, evitam a desresponsabilização e o não assumir a culpa de algo que corra menos bem.

O papel do líder

Como líderes de equipa estamos constantemente na mira de todos, e os responsáveis de equipa têm sempre as “costas largas”.

Quando tudo corre como devia, o mérito não será apenas do líder. E o mesmo acontece quando o resultado é diferente do expectável. Não é somente o líder o culpado de todo o mal nem de tudo o que se passa de bom.

Em última instância, o líder é de facto o responsável quando algo corre mesmo mal, e muitas vezes o único que não pode dizer “não fui eu…”, pois estará no topo da cadeia, e colocar as culpas noutros é difícil!

Acima de tudo, o líder tem de construir uma equipa que se responsabilize por realizar bem cada uma das suas tarefas, por trabalhar em conjunto e evitar que esta frase se oiça.

A culpa morre sempre solteira, por isso, em vez de perseguir o verdadeiro culpado, fará mais sentido procurar evitar que volte a acontecer o mesmo, fazer com que as pessoas evitem dizer que não têm a culpa e ajudem um pouco mais os colegas.

Cabe também ao líder agir de forma justa perante os problemas e resultados menos positivos, para que a frase não seja dita por medo de consequências graves ou “castigos”, como desculpa de algo que não se sabia ou não foi realizado.

O papel da equipa

É importante eliminar esta frase do léxico da equipa.

A desresponsabilização constante não ajuda em nada o espírito de equipa, principalmente quando as coisas correm menos bem.

Se ouvimos muitas vezes esta expressão é porque não existe foco e as pessoas têm receio de serem responsabilizadas pelos erros de outras, em vez de saírem em seu auxílio e colaborarem em conjunto para que todos os departamentos tenham igual sucesso.

Quando os resultados são bons e quando se atingem as metas definidas, então nessa altura a culpa é de todos, mas no bom sentido, claro! Foram todos os responsáveis pelos bons resultados, e todos querem ser premiados!

Crie uma cultura onde o erro não seja penalizado, mas sim corrigido. Não procure justificar as coisas más que acontecem, mas sim identificar o que não pode voltar a acontecer. É quando os enganos ocorrem que se aprendem grandes lições e se resolvem certos problemas que precisavam há muito de resolução.

Por isso, que seja possível na sua empresa escutar cada vez mais a frase “sim, fui eu…”


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